
Música Corporal
O uso do corpo como instrumento musical data desde os primórdios da linguagem humana e é difícil saber exatamente como isso acontecia. Porém, no século XIX e XX surgiram alguns estilos de música corporal que se firmaram e permanecem até os dias atuais, como o sapateado, hambone, stepping, gumboot dance, dança flamenca, dança cigana, kecak, e outras. Pelo fato da música corporal ser uma prática híbrida, que mistura corpo e música, as pessoas ligadas a ela podem ter características bem distintas, como mostra Feder (2011) ao comentar sobre a origem dos membros do grupo “Barbatuques”.
"Os perfis dos integrantes do grupo demonstram diferentes níveis de formação musical em cada participante, desde atores e acrobatas que migraram para o universo musical até aqueles integrantes especializados em música propriamente dita. Formados em Música Popular pela UNICAMP são: Fernando Barba, Lu Horta e André Hosoi. Outros como André Venegas, Charles Raszl e Giba Alves estudaram na ULM (USP), e se tornaram integrantes dos Barbatuques a partir das aulas ministradas por Fernando Barba e Stênio Mendes na Orquestra Orgânica Performática da ULM. Outros integrantes como Dani Zulu, Flávia Maia, João Simão e Mariah Rocha fizeram parte do grupo Baque-Bolado, grupo recriador de manifestações da cultura popular pernambucana em São Paulo, referência no ensino e divulgação do ritmo maracatu especialmente entre jovens de classe média da zona oeste da cidade. Demais integrantes como Bruno Buarque, Helô Ribeiro, Renato Epstein, Marcelo Pretto e Maurício Maas possuem formações musicais distintas dos demais integrantes, mas ao longo de suas trajetórias artísticas sempre estiveram ligados direta ou indiretamente ao universo da música. A maioria dos integrantes atua no campo da arte-educação, ministrando aulas de música, tocando em outros conjuntos musicais e desenvolvendo projetos paralelos." (FEDER, 2011, p.15).
Atualmente, o principal artista da chamada body music é o músico e sapateador americano Keith Terry, que dirige a organização Crosspulse, responsável pela produção de um significativo material artístico/pedagógico de música corporal e pela organização do IBMF (Internacional Body Music Festival), um festival que reúne anualmente os principais grupos e artistas de percussão corporal do mundo. Feder (2011) listas algumas referências mundiais da música corporal:
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"Alguns artistas e grupos no mundo já viraram referência como Barbatuques (Brasil), Bay Area Sonic Ensemble (EUA), Henning von Vangerow (Alemanha), Jep Meléndez (Espanha), Kekeça (Turquia), Kenny Muhammad (EUA), Las Flamencas (Espanha), LeeLa Petrônio (França), Max Pollak (Áustria), Sandy Silva (Canadá), Slammin All-Body Band (EUA), Step Afrika! (EUA), Steven Harper (EUA) e Tekeyé (Colômbia)." (FEDER, 2011, p.17).
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Usando o site da Crosspulse e do IBMF como referência, ainda é possível citar Mayumana (Israel), Body Music (EUA), Taketina (Áustria), Javier Romero (Espanha), Santi Serratosa (Espanha) e Evie Ladin (EUA). No Brasil o grupo “Barbatuques” é a maior referência em “música corporal”, tem reconhecimento internacional e participou de quase todas as edições do IBMF. Possui um material artístico extenso, que conta com cinco CDs gravados em estúdio e dois DVDs de shows. Segundo Consorte (2014), muitos grupos foram criados no Brasil por influência do Barbatuques, como o NOP (Núcleo Orgânico Performático), Grupo Fritos, Batucantante (SP), Tiquequê (SP), Karallargá (SP), Stallo (CE), Wanamusiki (MT), Batucadeiros (DF), TucBoys (SP), Música Para Todos (SC), Embatucadores (SP), Batukatu (RS) e Grupo de Estudos do Barba (SP). (CONSORTE 2014, P. 40). Há também o grupo de dança de São Paulo Gumboot Dance Brasil, que representa uma dança tradicional da África do Sul, feita com galochas, o Gomboot. (FEDER 2011, P. 11).
Consorte (2014), que foi integrante do grupo percussivo STOMP, consegue fazer também um panorama das instituições onde acontecem aulas regulares de percussão corporal no Brasil. Fica bem evidente o quanto o “nicho” da música corporal está concentrado em São Paulo/SP.
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"Alguns exemplos de instituições que têm oferecido, regularmente, atividades especializadas em percussão corporal são: Centro Universitário Sant’Anna (SP), Faculdade Cantareira (SP), UNESP (Universidade Estadual Paulista), EMESP (Escola de Música do Estado de São Paulo), SESI-SP (Serviço Social da Indústria de São Paulo), SESC-SP (Serviço Social do Comércio de São Paulo), Instituto Brincante (SP), Casa do Núcleo (SP), Projeto Quixote (SP) e CBM-CEU (Conservatório Brasileiro de Música – Centro Universitário no Rio de Janeiro)." (CONSORTE, 2014, p. 41).
Bibliografia
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